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ALUNO DA ETHOS… E NOVO CRÍTICO DE CINEMA

O aluno de Jornalismo Cultural (EaD) da Ethos Comunicação & Arte cumpriu a missão. Após estudar as grandes referências da crítica no Brasil e no mundo, analisar textos de grandes críticos, Guilherme Rodrigues fechou seus estudos com uma bela crítica de cinema. “Assessor de imprensa e crítico de cinema nas horas vagas, procurei o curso da Ethos de Jornalismo Cultural para redirecionar minha carreira para este campo que sempre foi de meu interesse e onde pretendo atuar profissionalmente. O conteúdo do curso é de ótima qualidade, e a correção dos exercícios também. É visível que o professor realmente leu seu trabalho e os comentários dele são sempre pertinentes”, comenta Rodrigues.

Leia abaixo sua crítica.

Sete Anos em Maio – Entre moinhos e jogos

Novo filme de Affonso Uchôa explora os impactos da violência policial

Por Guilherme Rodrigues

Cartola já dizia, “O mundo é um moinho”, e o cinema do mineiro Affonso Uchôa tem intenção

de demonstrar que o Brasil é o maior desses moinhos, o mais otimizado em triturar pessoas

marginalizadas. Em Arábia, filme prévio do diretor, esse moinho é o mundo do trabalho, que

consome o protagonista do longa a exaustão, já no média metragem Sete Anos em Maio,

Uchôa volta seu olhar para a violência policial, algo infelizmente corriqueiro no país.

O filme conta a história de Rafael dos Santos Rocha, que em uma noite qualquer de Maio, foi

abordado por policiais na porta de sua casa, que alegaram ter recebido uma denuncia de que

ele estava escondendo drogas. A casa de Rafael foi destruída pelos policiais, que em seguida,

o colocaram na viatura, e o torturaram em um terreno baldio, alterando o rumo da vida do

jovem, que teve que fugir para São Paulo.

A narrativa se desenvolve por meio de uma conversa entre Rafael, contando sua própria

história, e um ouvinte desconhecido, há pouca dramatização dos eventos em si, somente no

início, que tem tons um tanto teatrais: Ao invés de policiais interpretados de modo direto, temos

jovens periféricos usando equipamentos policiais como botas, coletes, armas e porretes, re-

encenando a captura de Rafael, como num jogo onde, finalmente, o rosto que está embaixo da

bota não pertence a eles.

Rafael conta a sua história de modo direto e sem cortes, Uchôa confia na força do relato de

vivência, o que representa uma autoria dividida, de certo modo: As imagens potentes do longa

são conjuradas pela fala da vítima, e não pela reconstrução dramática do diretor. A fala do

protagonista é simples e se contenta a relatar os acontecimentos, até que o monólogo vire

diálogo, e a produção passa a refletir sobre essa realidade tão comum entre os marginalizados,

e a estrutura violenta que permite essa prática é questionada, “o mundo não é injusto só pela

polícia não”.

Esse método funciona em termos. Difícil imaginar alguém mais apropriado para falar de tortura

do que o próprio torturado, mas é difícil deixar de considerar que, no fim das contas, Sete Anos

em Maio é um filme cujas imagens pouco importam, e seu impacto seria pouco afetado caso

decidisse assistir de olhos fechados por boa parte da sua duração. Se no início temos o teatro,

no meio a fala, ao final temos um jogo de vivo ou morto, com um policial como o organizador da

brincadeira, colocando de maneira ingeniosa o dilema dos marginalizados: Seguir as regras do

jogo, sem garantias de sucesso, ou buscar os próprios rumos?.

Sete Anos em Maio foi lançado digitalmente no dia 14 de maio pela Embaúba Filmes.