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Irã e Israel são inimigos na política.
Mas o cinema os une no mesmo patamar mundial!

Natalie Portman no filme 'Free Zone' (2005) de Amos Gitai

Irã e Israel podem ser arquiinimigos na política, mas possuem algo que os une: cinema criativo, ousado e contestador, capaz de driblar a censura rígida iraniana e tocar em feridas próprias, como é o caso da relação dos israelenses com seus vizinhos. É o que conta Franthiesco Ballerini, Doutor em Processos Socioculturais e autor do livro ‘História do Cinema Mundial‘, o livro mais vendido da área no Brasil, referência nas faculdades de cinema do país.

Como o Irã consegue ter um cinema tão rico e premiado debaixo de uma rígida censura?
Talvez seja a própria censura que tenha despertado o interesse de artistas de manifestar, de forma criativa, as diversas problemáticas do país. Uma das técnicas é trabalhar com histórias minimalistas, que aparentemente não estão ferindo diretamente a nação, mas está, sim, criticando e refletindo sobre o país. É o caso dos dois filmes vencedores do Oscar de melhor filme estrangeiro, ambos de Asghar Farhadi, ‘A Separação’ (2011) e ‘O apartamento’ (2016). Aliás, o Irã é o único país na linha de frente dos inimigos dos EUA a ganhar dois Oscars.

Por que estes dois filmes são exemplos da criatividade iraniana no cinema?
No primeiro, um casal discute o divórcio num tribunal, que não permite que a filha vá embora com a mãe. Farhadi criticou as tradições machistas e arraigadas do país via família e sistema judiciário. No segundo filme, além do sistema judiciário corrupto, o diretor critica a imensa passividade do país diante da violência contra a mulher iraniana.

Quem é o maior diretor iraniano de todos os tempos?
Sem sombra de dúvidas foi Abbas Kiarostami, que soube, como poucos, trabalhar com atuações infantis autênticas e absorveu fortes influências neorrealistas. Soube driblar a censura ao trabalhar, no roteiro, com a ausência de juízo, ou seja, não conduzir o olhar do espectador para dizer que tal atitude é apenas certa ou errada. ‘Onde fica a casa do meu amigo?’ (1987) me comove profundamente, me dá a sensação de que aquela criança não é ator, está vivendo ela mesma, mas não é verdade!

Israel, por sua vez, possui liberdade de expressão, mas não menos problemas…
Sim, e também sabem discutir, de maneira franca e honesta, sei deixar de fazer propaganda do próprio sistema, suas grandes problemáticas. O cinema israelense tem batido recordes de bilheteria no país nos últimos anos e existe uma clara estratégia de transformar o audiovisual num poder suave do país, via cinema e séries de TV, algo que eu discuto muito no meu livro, ‘Poder Suave – Soft Power‘.

Tem um exemplo de diretor israelense de grande talento?
Gosto muito do Amos Gitai. Ele se tornou habilidoso em fazer um cinema que sempre aborda o diálogo entre judeus e o diálogo entre judeus e seus vizinhos árabes.

Que filmes dele você destacaria?
Gosto muito de ‘Kadosh – Laços sagrados’ (1999), sobre uma mulher casada há 10 anos que não conseguiu ter filhos e, por isso, mesmo amando o marido, é pressionada a se separar, com base na tradição judaica mais ortodoxa. O que fala mais alto, a tradição ou o amor? Gosto também de ‘Free Zone’ (2005), estrelado por Natalie Portman. O filme é impecável e se abre com uma longa cena em que a personagem olha chorando para a janela de um veículo, ao som de uma cantiga cuja letra fala do ciclo sem fim de dor e morte na região. Maravilhoso!

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