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O melhor momento para filmes e séries
brasileiras conquistarem o mundo é agora!

Cena de 'A que horas ela volta?' (2015), de Anna Muylaert

Este é o momento mais promissor para levar o audiovisual brasileiro para mercados internacionais. É o que pensa Laura Rossi, produtora executiva da Gullane Filmes, uma das maiores produtoras do Brasil, e professora do curso de Negócios Internacionais para Cinema e TV da Ethos Comunicação & Arte. Laura conta, nesta entrevista, que está finalizando a maior animação já realizada na América Latina e produzindo os novos filmes dos premiados Karim Aïnouz e Fernando Coimbra. E conta como é possível levar filmes e séries brasileiras para todos os países do mundo. Confira!

Você considera o cenário internacional promissor, atualmente, para fazer negócios de produtos de cinema e TV? Porque?
Sim, mas talvez ainda mais importante é citar que o cenário interno está muito promissor para a internacionalização. Recentemente, a Ancine, que é o órgão de fomento e regulamentação do setor no Brasil, anunciou que internacionalização estava entre suas três prioridades estratégicas para 2024. Sempre que contamos com políticas públicas, o caminho se torna mais fácil, porque existe um suporte para fazer esse salto. Diversas outras entidades contam atualmente com excelentes programas de apoio à internacionalização, como Cinema do Brasil, Projeto Paradiso, e, em nível de São Paulo, a SPCine e CreativeSP, braço de economia criativa do programa da InvestSP, para citar alguns.

Na sua opinião, os produtos audiovisuais brasileiros estão melhor posicionados hoje no mercado internacional ou já houve momentos melhores?
Vivemos algumas épocas muito boas, a mais recente até 2018. Foi um período de muito destaque ao cinema latino, com importantes premiações para filmes e diretores da região, e uma onda que o mercado brasileiro de cinema soube surfar muito bem. Além disso, nos últimos anos, fortalecemos muito a produção local de conteúdo financiado por agentes internacionais (os originals das plataformas como Netflix, Amazon, etc., por exemplo), apoiados na expansão local dos canais e plataformas e no fato de que o Brasil está entre os top 5 mercados consumidores para a grande maioria os streamers. Acredito que o mercado para produtos audiovisuais de língua não-inglesa está muito aquecido e em uma condição nunca antes experimentada. Se por um lado a onda de interesse atualmente está mais focada nos conteúdos asiáticos, o aumento do consumo e aceitação das audiências globais a legendas é algo concreto e cria um espaço para exploração do internacional que independe das ondas. E, somado a isto, a indústria brasileira tem se profissionalizado cada vez mais, com uma presença solidificada no mercado internacional. Certamente que precisa ser mantida e expandida, mas que já nos dão certa previsibilidade de oportunidades no presente e futuro.

Você poderia citar um exemplo de bom ou ótimo negócio internacional feito por um produto audiovisual brasileiro (um case)?
Sem dúvida Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, é um dos grandes cases da minha carreira e do audiovisual brasileiro nos últimos tempos. É um filme com uma diretora em seu momento ainda não conhecida internacionalmente que conquistou importantes prêmios nos festivais de Sundance e Berlin e foi vendido e lançado em mais de 70 países ao redor do mundo. O caminho é sempre difícil, mas fica um pouco mais fácil quando trabalhamos com talentos já estabelecidos. Construir uma trajetória dessas, apresentando um novo diretor brasileiro, tendo uma grande repercussão da crítica e audiências ao cinema nacional e ainda uma excelente carreira comercial. É o tipo de trabalho que se sonha desenvolver. Um projeto onde a presença do Brasil é menor mas que foi muito importante estrategicamente foi O Traidor, filme de 2019 do Marco Bellocchio, uma coprodução minoritária do Brasil com a Itália e outros parceiros europeus. Com essa parceria, trouxemos a imagem do Brasil e os talentos brasileiros, como a atriz Maria Fernanda Cândido, a um filme de um dos maiores diretores dos tempos atuais, a um filme que esteve na sessão competitiva do Festival de Cannes, com grandes lançamentos ao redor do mundo, por exemplo, com a Sony Classics nos Estados Unidos. Esse tipo de movimento é menos reconhecido internamente porque o Brasil não é o protagonista, mas ao fazer esse tipo de parceria estratégica, abrimos muitas portas ao mercado nacional.

Quais são as coisas que mais te encantam neste universo que você trabalha há tanto tempo?
Trabalhar com o mercado do entretenimento é mágico na mesma proporção que é desafiador. Acredito que todos os profissionais que estão na área, estão porque compartilham da mesma paixão, e isso cria um ambiente muito estimulante para trabalhar. Em especial falando de internacionalização, uma área que me conquistou há mais de uma década, acredito que meu maior encanto vem do contato constante com diferentes formas de pensar, viabilizar, produzir e comercializar nossos conteúdos. Essa visão global do que está sendo feito pelos diferentes mercados independentes, faz florecer grandes ideias. É uma realização muito grande em trazer novidades e tendências ao mercado brasileiro, que eu tanto que ver se desenvolver mais e mais.

De modo reverso, quais são as coisas que mais te incomodam neste campo que você trabalha?
Sou muito realizada nesse campo, mas vejo lugares onde podemos ainda melhorar muito. Um dos pontos de melhoria que acredito crucial para a manutenção do mercado é justamente a gestão de direitos. Especificamente, o quanto não exploramos a totalidade dos direitos das nossas obras produzidas. Quando produzimos um filme ou uma série de maneira independente, significa que provavelmente temos disponíveis centenas de direitos que podemos explorar comercialmente: as janelas (cinema, TV paga, TV aberta, SVOD, etc), mas também os diferentes territórios (pense no efeito multiplicador de explorar todas as janelas não só no Brasil, mas em 20, 50, 100 territórios diferentes), e os direitos derivados (vendas de remake, por exemplo, que é um caminho de internacionalização interessante).

Quais são as obras que você tem mais orgulho de ter feito parte do time que ajudou a levá-las para audiências internacionais?
Apesar de ter muito orgulho do trabalho que desenvolvemos para todos os nossos projetos, com certeza existe um orgulho especial em aumentar o alcance de projetos que se alinham com o que eu acredito como futuro para o mercado brasileiro. Os filmes que estamos trazendo pra 2024 são muito marcantes nesse sentido. Estamos finalizando a maior animação latino-americana já realizada, Arca de Noé, um projeto complexo e ousado que com certeza irá trazer muitos frutos para o Brasil. Além disso, estamos “repatriando” dois talentos incríveis brasileiros, Karim Aïnouz, que está produzindo um filme bem próximo às suas raízes brasileiras depois de ter sido muito bem sucedido com seu primeiro longa internacional, Firebrand (Cannes Competição 2023), e Fernando Coimbra, que está terminando seu novo longa depois de uma temporada produzindo conteúdos incríveis para as plataformas no internacional (Narcos, Outcast, Sand Castle, etc).

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