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O cinema brasileiro venceu Bolsonaro.
Agora é hora de gritar e criar!

Cena de 'Deserto Particular (2021), de Aly Muritiba.

“O cinema brasileiro venceu Bolsonaro. Agora é hora de gritar!” É assim que começa a conversa com Franthiesco Ballerini, Doutor em Processos Socioculturais e autor do livro ‘Cinema Brasileiro no Século 21‘, um mergulho por todas as áreas do cinema, da história à produção executiva, e referência nas faculdades de cinema do país.

Como você avalia o atual momento do cinema brasileiro?
O cinema nacional venceu Bolsonaro e todos os boicotes culturais e financeiros promovidos por sua trupe da extrema direita. E isso não é pouco. O poder da máquina federal pode ser fatal para cinematografias que dependem de leis de incentivo para competirem com o maquinário de indústrias autossustentáveis como Hollywood e Bollywood. Agora é preciso gritar e criar!

Como assim gritar e criar?
O Brasil viveu um de seus momentos mais intensos entre os anos de 2013 e 2023. Os protestos pelo aumento da tarifa de ônibus em São Paulo desencadearam numa década que levou ao golpe que derrubou a presidenta Dilma e, depois, a chegada da extrema direita no poder. É preciso ver o audiovisual, e não só o cinema, mas as telenovelas e as séries de TV, gritarem estes momentos na forma de documentários e ficção. Obras medianas que abraçaram parte desta rica história chegaram a ser indicadas ao Oscar. Imagine que rica seria a “gritaria” de filmes que aprofundem, de forma criativa, reflexiva e ousada, todos os absurdos políticos, econômicos e sociais que vivemos nessa década? A ditadura militar já rendeu excelentes produções. Está na hora de privilegiar nossa história mais recente. Ela precisa ser gritada no cinema.

Quais são os filmes contemporâneos brasileiros que valem grandes aplausos, na sua opinião?
Fiquei encantado com ‘Deserto Particular’ (2021), do Aly Muritiba. É o melhor filme feito neste período obscuro da extrema direita bolsonarista. Porque, além de uma história de amor lindíssima, é também uma crítica mordaz à intolerância social, religiosa e política que este país vive cotidianamente. O mesmo senti com ‘Paloma’ (2022), do Marcelo Gomes. São parecidos, em termos de temática, e fico pensando como a última década brasileira pode ampliar ainda mais as possibilidades de explorar todos os ângulos da intolerância e da desigualdade que nos marcam tão profundamente.

Quais são seus filmes brasileiros prediletos?
Da Retomada para os dias atuais, sem dúvida ‘Central do Brasil’ (1998), do Walter Salles, ainda me parece o filme mais encantador e completo. Emociona profundamente o público e foi ovacionado pela crítica e por festivais. Uma história humana, bem trabalhada em todos os seus detalhes. ‘Cidade de Deus’ (2002) ainda é um grande ícone do século 21, e sua linha temática e sua abordagem estética poderia render muitos outros novos frutos. Por fim, ‘Bacurau’, do Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, transformou em entretenimento questões sociais e políticas que se tornariam mais urgentes a partir do ano em que foi lançado. Em comum, todos eles conseguiram algo que não pode ser mais tão raro no Brasil: êxito de crítica e prêmios em festivais mas, principalmente, envolvimento de uma parcela significativa da população brasileira. É isso que gostaria de ver muito mais todos os anos no cinema brasileiro.

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